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Alexander von Humboldt: „Vida nocturna dos animaes nas florestas do Novo Mundo“, in: ders., Sämtliche Schriften digital, herausgegeben von Oliver Lubrich und Thomas Nehrlich, Universität Bern 2021. URL: <https://humboldt.unibe.ch/text/1849-Das_naechtliche_Leben-23-neu> [abgerufen am 25.04.2024].

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Permalink:
https://humboldt.unibe.ch/text/1849-Das_naechtliche_Leben-23-neu
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Titel Vida nocturna dos animaes nas florestas do Novo Mundo
Jahr 1859
Ort São Luís
Nachweis
in: A imprensa 3:20 (9. März 1859), S. 3; 3:22 (16. März 1859), S. 3; 3:23 (19. März 1859), S. 3–4.
Sprache Portugiesisch
Typografischer Befund Antiqua; Spaltensatz; Auszeichnung: Kursivierung, Kapitälchen.
Identifikation
Textnummer Druckausgabe: VI.118
Dateiname: 1849-Das_naechtliche_Leben-23-neu
Statistiken
Seitenanzahl: 4
Spaltenanzahl: 2
Zeichenanzahl: 21289

Weitere Fassungen
Das nächtliche Leben im Urwald (Stuttgart; Tübingen, 1849, Deutsch)
The Nocturnal Life of Animals in the Primeval Forest (London, 1849, Englisch)
The nocturnal life of animals in the primeval forest (London, 1849, Englisch)
Nocturnal Life of Animals in the Primeval Forest (London, 1849, Englisch)
The forest at midnight (Banbury, 1849, Englisch)
Life of animals in the primeval forest (Belfast, 1849, Englisch)
Das nächtliche Thierleben im Urwalde (Leipzig, 1849, Deutsch)
A Burning Day on the Orinoco (London, 1850, Englisch)
A Burning Day on the Orinoco (Nottingham, 1850, Englisch)
Nocturnal Life of Animals. – A Night on the Apure (London, 1850, Englisch)
Nocturnal life of animals. – A night on the Apure (London, 1850, Englisch)
Nocturnal Life of Animals. – A Night on the Apure (Newcastle-upon-Tyne, 1850, Englisch)
Nocturnal Life of Animals. – A night on the Apure (Devizes, 1850, Englisch)
Nocturnal Life of Animals – A Night on the Apure (Manchester, 1850, Englisch)
Nocturnal life of animals in the primeval forest (Pietermaritzburg, 1850, Englisch)
The Forest at Midnight (Worcester, 1850, Englisch)
Nocturnal life of animals in the primeval forest (London, 1851, Englisch)
Der Waldsaum am Orinoco (Leipzig, 1851, Deutsch)
Das nächtliche Thierleben im Urwalde (Baltimore, Maryland, 1853, Deutsch)
Syd-Amerikas skogar (Borgå, 1854, Schwedisch)
A night on the banks of a south american river (Glasgow, 1856, Englisch)
[Das nächtliche Leben im Urwald] (Philadelphia, Pennsylvania, 1858, Englisch)
Vida nocturna dos animaes nas florestas do Novo Mundo (São Luís, 1859, Portugiesisch)
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Vida nocturna dos animaes nasflorestas do Novo Mundo porHumboldt.

Se o sentimento da natureza cuja viva-cidade varia em todas as raças, se a phi-sionomia dos paizes que habitão diversospo@os ou que estes tem atravessado on-@@ ora em suas emigrações, tem mais on me-nos enrequecido as linguas com expresõespitorescas, proprias a carecterisar as for-mas das montanhas, o estado da vegetação,o aspecto da atmosphera, o contorno e agru-pamento das un vens, por ontro lado o longouso e os caprichos litterarios tem alteradoa significação primitiva de grande numerodessas expressões. Pouco a pouco nos acos-@mamos a considerar sinonimos termosque devião conservar um sentido distincto,e as linguas perdem alguma cousa de suagraça e energia que as ajudavão a repro-duzir, na discripção da natureza, o cara-cter proprio das paisagens. Para mostrarquanto o commercio intimo da natureza,e as necessidades da vida nommada, dão |Spaltenumbruch| riqueza as linguas recordarei apenas o nu-mero inlimto de expressões caracteristicasque distinguem no ara@e e no persa, asplanicies, os steppes e os desertos, segun-do o sólo é completamente nú ou cobertode aréa, iriçado de rochedos e entrecor-tado de pastagens, ou que @erece vastosespaços uniformemente cobertos de plantassociaes. Igualmente admiraveis são as nu-merosas expressões que nos antigos idio-mas castelhanos, pintão a phisionomia dasmassas de montanhas, praticularmente asformas que reproduzem em todas regiõese revelão a natureza das revas a uma dis-tancia consideravel. As populações quevivem nos declives dos Andes, na partemontanhosa das ilhas Canarias, das Anti-lhas e das Philippinas, são de origem hes-panhola e estes paizes são daquelles emque a configuração do solo influe mais ener-gicamente, se exceptuar-se talvez o Hima-laia e as planicies do Tibet, sobre o gene-ro de vida das habitantes. Tambem as ex-presões destinadas a pintar a comfiguraçãodas montanhas, segundo são formadas detrachites, basalto, e porphiro, ou de schis-to, calcario e greda se tem conservado fe-lizmente no uso quotidiano da converça.Conservando suas an@gas riquezas, estaslinguas favorecidas fazem aquisições que sevem juntar aothesouro com@@. Tudo oque tende a reproduzir a verdade da na-tureza dá uma nova vida a linguagem, querse busque descrever a impressão sensivelproduzida em nós pelo mundo extenso, ounossos sentimentos intimos e as profon-dezas em que se agitão nossos pensa-mentos. a pesquiza constante desta verdade danatureza é o @@ de toda a descripção quetem a natureza por objecto. E necessariopara ahi tender incessantemente, seja pormelhor se penetrar no conhecimento dosphenomenos, seja para ecolher, descre-vendo-os, a expressão caracteristica. Omelhor meio de alcançar este escopo, éque o observador aquelle que sentio a im-pressão por si mesmo, a narre simples-mente, e circumserevae particularise o lu-gar ou as circumstancias ás quaes se pren-de sua narração. As grandes leis da phisica, os resulta-dos geraes da experiencia fazem parte dadoutrina do Cosmos e esta doutrina não pas-sa para nós, diziendo a verdade, d’uma sci-encia de indenção: mas onde buscar os ele-mentos della, senão na descripção dos cor-pos organicos, animaes ou plantas, se de-senvolvendo como um fragmento da vidauniversal, no meio dos diversos acciden-tes da superficie terrestre, nas circums-tancias da paisage me lugar em que a na-tureza os colloco@? Elevados a altura deobras d’arte, e applicadas ás grandes sce-nas da natureza, estas descripções com-municão ao espirito uma impulsão fecunda. O paiz florestal que se estende na zonatorrrida da America meridional e enche asduas bacias que se unem do Orenoco e doAmazonas, offerce seguramente uma des-sas grandes scenas da natureza. Este paizmerece, na accepção rigorosa do termo,o nome de floresta primimtiva de que tantose tem abusado em nossos dias. As deno-minações de florestas primitivas de temposou de povos primitivos, offerecem idéaspor demais vagas, e não tem um sentidoabsoluto. Dever-se-hachamar floresta pri-mitiva ou floresta virgem, toda especie dematta fechada e selvagem, cheia de arvo-res vigorosas sobre as quaes o homemnunca levanton sua mão destruidora? Es-te nome pode convir a um grande nume-ro de paizes diversos, sob a zona tempe-rada e mesmo sob a zona glacial. Mas se sebusca sobre tudo designar por um nome aimpenetrabilidade de uma extensa matta,a impossibilidade de abrir uma vereda como machado por entre arvores que não temenos de oito a doze pés de diametro,então as florestas virgens só pertencem ásregiões propicaes. Não se crea que sejãosempre, como se diz na Europa, os cipóstrepadores que pelos entrelaçamentos deseus ramos tornem impenetraveis as flo-restas visinhas do equador. Os cipós nãoformão muitas vezes senão uma muito fra-ca porção de gravetos. O obstaculo prin-cipal vem das plantas arborecentes que nãodeixão espaço algum vasio, em um paiz emque todos os vegetaes que cobrem o solotornão-se leuhosos. Se um viajantante,logo que chega sob os tropicos e bão só nocontinente como tambem nas ilhas, se crè,antes mesom de se affastardas costas, trans- |Spaltenumbruch| portado no meio de mattas vergens, se@erro não pode provir senão da impacien-ciade ver um longo desejoj realisado. Nemtodas as mattas tropicaes são florestas vir-gens. Nunca me servi desta palavra narelação historica de minha viagem; e en-tretanto para fallar de homens que aindavivem, creio ser com Bonpland, Martins,Pœppig, Roberto e Ricard Schomburgk,um dos observadores da natureza que maistem vivido no meio de mattas virgens, en-cerrados no coração de um vasto conti-nente.(Continúa.)
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Vida nocturna dos animaes nasflorestas do Novo Mundo porHumboldt. (Continuado do n. 20.)

Apezar da admiravel riqueza da linguahespanhola em termos descriptivos, ri-queza que já fiz notar, uma só e mesmapalavra—monte—designa ao mesmo tem-po a montanha e a floresta, e se empregacomo synonimo de cerro e de selva. Emum trabalho sobre a verdadeira largura esobre o maior prolongamento oriental dacadêa dos Andes, tenho feito ver quantopor causa desta dupla significaçào do ter-mo—monte—uma costa ingleza da Ame-rica meridional, bella entretanto e assazderramada, tem convertido planicies em al-tas montanhas. Nos lugares em que a costahespanhola de La Cruz Olmedilla, quetem servido de base a tantas outras, indi-cava florestas de Cacáo—montes de Ca-cáo—se fez surgir Cordilheiras, hem queo cacaoeiro busque o calor ardente doslogares baixos. Se se abraça com uma vista d’olhos aregião florestal que occupa toda a Ameri-ca meridional, desde os Slanos de Coza-cos até os Pampas de Buenos-Ayres en-tre o 8 gráo de latitude borsial; e 19 gráode latitude austral se reconhece que ne-nhuma floresta sobre a superficie da terrapode ser comparada, pela extensão a es-ses Hylda não interrompidos da zona tro-pical. Apresentão quasi doze vezes a su-perficie da Allemanha. Cortados em to-dos os sentidos por immensos rios, cujosaffluentes de primeira e segunda ordemrolão algumas vezes agoas mais abundan-tes que o Danubio e o Rheno, devem aadmiravel riqueza de sua vegetação ao du-plo beneficio da humidade e do calor.Na zona temperada particularmente naEuropa e no Norte da Azia, certas espe-cies de arvores crescem em sociedade(plantæ saciales) e formão por si sós flo-restas que se podem designar por seu no-me especifico. Nas florestas de carva-lhos, pinheiros, e betulas que cobrem ospaizes do Norte, nas florestas de tilias deOriente, reina ordinariamente uma especieunica de Amentacéas, de Coniferas ou deTiliacéas. Entretanto algumas vezes arvo-res de folhas alinearias são entremeadosde arvores de largas folhas. Esta socie-dade uniforme é estranha ás florestas tro-picaes. A variedade infinita de flores quese abrem nessas Hylda não permitte re-conhecer de que se compõe as mattasvirgens. Uma quantidade imnumeravelde familias diversas, se levantão mistura-damente, mesmo nos mais pequenos es-paços, é raro ver reunidas arvores da mes-ma familia. Cada dia a proporção que oviajante caminha, descobre formas novas;muitas vezes as folhas e ramificaçõesd’uma arvore attrahe sua attenção semque elle possa distinguir suas flores. Os rios e seus confluentes imnumera-veis são os unicos caminhos desses pai-zes, se tem reconhecido muitas vezes,com auxilio de observações astronomicas,ou quando estas faltão, determinando coma bussola a curva dos rios, que entre oOreno com o Cassiquiare e o Rio Negro,existe em muitos logares, separados ape-nas por algumas leguas, duas missões cu-jos missionarios não podem se visitar se-não gastando mais d’um dia a seguir emcanoas formadas de troncos de arvoresas sincosidades dos rios. Para se de-monstrar a que ponto são impenetraveiscertas partes das florestas, basta tomarum traço da vida do grande tigre ameri-cano ou Jaguar. Em quanto. graças aintroducção do gado européu, os cavallose os machos—os animaes carniceirosachão um alimento abundante nos Llanos,Pampas e planiceis, sem arvores de Vari-nas, Meta e Buenos-Ayres e hão multipli-cado consideravelmente, desde a desco-berta da America, attacando os rebanhoscom armas desiguaes, outros individuosda mesma familia passão uma vida mise-ravel no amago das florestas, junto asfontes do Orenoco. Afflictos com a per-da d’um grande dogue, o mais fiel e omais devotado de nossos companheiros,que tinha desaparecido d’um bivouac per-to do confluente do Cossiquiariare e doOrenoco, suspeitando, sem sabel-o, queelle havia sido despedaçado pelos tigres,nos decedimos, livrando-nos das legiõesde insectos que nos tinhão assaltado namissão de Esmeralda, a passar uma noitenos lugares em que tinhamos em vão epor muito tempo procurado nosso cão.Ouvimos de novo, a pequena distancia ogrito de Jaguares, daquelles talvez quefossem os que houvesse commettido omal. Como o céo estivesse nubuloso enão permittisse observar as estrellas, fi-semos traduzir por nosso interprete (lan-guaraz) o que disião dos tigres da flores-ta os indigenas que nos servião de rema-dores. Entre esses tigres se encontra frequen-temente a especie chamada Jaguaz negro,o maior e mais sanguinario de todos, cu-jas nodoas negras mal se distingue sobreum pélo pardo-escuro. O Jaguaz vive nasfaldas dos montes Maraguaca e Untura-no. Arrastados por sua avidez e desejodo mudar de sitio, estes animaes, segundonos contou um indio da aldeia de Dori-monds, se perdem algumas vezes em lu-gares das florestas de tal forma enreda-dos que elles não podem perseguir a pre-sa no chão, de sorte que tornando-se oespanto dos macacos e Kinkajous de cau-das laçadoras (cerislepts) ficão redusidosa viver sobre as arvores durante longosespaços de tempo. O jornal que out’ora escrevi em alle-mão, e a que tomo estes detalhes, nãopassou inteiramente para a relação emfrancez de minha viagem. Contem umadescripção detalhada da vida, poderia di-zer das voses nocturna dos animaes nas flo-ressas tropicas. Uma semelhante descrip-cão me parece apropriada a um livro quetem por titulo—Quadros da natureza—passo pois a transcrevel-a aqui. Uma nar-ração feita a vista do mesmo phenomeno,ou pelo menos pouco depois de recebidae impressão deve ter mais frescura e vidaque o echo d’uma lembrança longiqua. Chegamos ao leito do Orenoco, descen-do do Oeste a leste o Rio Apuré, de cu-jas chêas tenho fallado no quadro dos step-pes e desertos. Estavamos em tempo daspequenas agoas ou marés, o Apuré tinhaapenas mil e dusentos pés de largura me-dia, em quanto que buscando a largura doOrenoco, na confluencia dos dois rios,perto da pequena montanha de granito deCuriquima, onde podendo medir uma ba-se trigonomotrisa, achei ainda mais deonze mil quatrocentos e trinta pés. En-tretanto do rochedo de Curiquima até omar e alem do Orenoco, se conta em li-nha réta mais de cento e sessenta legoas.Uma parte das planices que atravessão oApuré e o Payara são habitadas pelas ra-ças dos Jarmos e Achaguás nas missões,estes povos são chamados selvagens por-que querem viver independentes; maiselles estão bem perto, na escola da civi-lisação, daquelles que baptisados e viven-do sob o sino (baixo la campana) ficamestranhos a toda especie de instrucção eaperfeiçoamento! Depois de ter passado a ilha del Dia-mante, na qual os Zambos que fallam alingua hespanhola cultivão a cana, se en-tra em uma grande e selvagem natureza.O ar estava cheio de innumeraveis Flamin-gos (Phœnicopterus) e outros passarosaquaticos que se destacavão do asul doceo, como uma nuvem espessa cujos con-tornos variavão sem cessar. O rio se es-treitava a ponto de não ter mais que no-vecentos pés de largo e correndo direitodiante de si sem nenhum rodeio, formavauma especie de canal, assombriados am-bos os lados por espessas florestas, cujasraias offerecem um aspecto não visto.Diante do muro quasi impenetravel, for-mado pelos troncos gigantescos da Cesal-pina, dos Cedros, dos Desmanthus se ele-va sobre a margem arenosa do rio, umasebe pela alta, mais muito regular de Sanso. Esta sebe não chega ter quatropés de alto; ella é formada por um arbus-to chamado Hermesia castomifolia, quecompõe um novo genero da familia dasEuphoribas. Algumas palmeiras finas eespinhosas que os Espanhoes chamão— Peritu e Corozo—o que são talvez espe-cies de Marthinesia ou Bactris, estão col-locados immediatamente por traz destapalinoda; o todo parece a uma cerca feitacomo aquella de nossos jardins. Nestassebes estão abertas a grandes distanciasuma das outras—aberturas em forma depostas, sem duvida alguma forão grandesquadrupedes da floresta que abrirão estesburacos para chegar commodamente amargem do rio. De madrugada e ao pordo sol se vė sahir o Tigre americano, oTapir, e o Pecari ou porco mosqueado(Dicotyles) que vão dar de beber a seusfilhos. Se pertubados pelos indios quepassar em alguma canoa, elles querem tor-nar a entrar na floresta, não buscão que-brar violentamente a sebe de Souso, maistemos o prazer de ver estes animaes sel-vagens avançarem a passos lentos em umespaço de quatro centos a quinhentospassos, entre o rio e a sebe, e desapare-cerem pela primeira abertura. Durantesetenta e quatro dias, empregados quasisem interrupção a percorrer, em uma es-treita canoa, o espaço de seis centos etrinta legoas, no Orenoco, a cujas fontesquasi chegamos, no Cassiquiare, e no Rionegro, o mesmo espectaculo se nos offe-receu em muitos lugares differentes; eposso dizel-o, sempre com um encantonovo. Se vè vir em grupos especies deanimaes os mais diversos, que vão asbordas do Rio para bebér, passearem oubanharem-se; os garços de cores vivas,os Palamedios, e socós de marcha altiva,(Caas alutor Cras por auxi) vão em com-panhia dos grandes manuniferos. «Escomo en el paraiso» dizia com unção nos-so piloto, um veindio que tinha sido crea-do em casa de um frade. Mas a paz daidade d’ouro não reina no paraiso dosanimaes americanos; elles se separão, seobservão, e se evitão; as capivaras, detrez a quatro pés de tamanho, reproduc-ção colossal do Cabiai brasileiro (CaviaAguti) são devorados nagua pelos Croco-dilos, e pelo tigre em terra, e correm tampouco, que muitas vezes encontrando-osem rebanhos numerosos podemos perse-guil-os, e apanhar alguns delles. (Continua.)
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Vida nocturna dos animaes nasflorestas do Novo Mundo porHumboldt. (Continuado do n. 22.)

A baixo da missão de Santa Barbara deArchuna, passamos a noite como de ordi-nario debaixo da abobada do céo, depoisde haver escolhido, as margens do Apuré,uma planicie arenosa que ia unir-se a pe-quena distancia, á orela da espessa flores-ta. Tivemos dificuldade em achar páusseccos, para accender fogos, com que se-gundo o costume do paiz, se cercão os bivonaes (acampamentos) afim de os per-servar dos attaques dos Jaguaraes. A noite estava fresca e esclarecida pelalua. Muitos crocodilos se aproximavam dasmargens do rio; notei que a vista do fogoos attrahe, do mesmo modo que aos nos-sos caranguejos e muitos outros animaesaquaticos. Os remos dos barcos foram so-lidamente enlincados na terra, e nellesprendemos as redes. Reinava profundosilencio, apenas de vez em quando se ou-via o ronco dos delphins d’agua doce quevagavam em grandes grupos. Estes ani-maes habitam exclusivamente as corren-tes dos rios do Orenoco, e segundo Cole-brook, o Ganges até Benarés. Era mais de onze horas quando come-çou na floresta visinha, um alarido tal quefoi impossivel dormir mais o restante danoite. Toda a balça retenia com gritosselvagens. Entre as vozes memorosas quese mesclavam neste concerto, os indiosapenas podiam reconhecer aquellas que,depois de uma curta pauza, começavamsós a se fazerem ouvir. Eram gritos guturaese monotonos das guaribas, vozes queixosase aflautadas dos pequenos Sapajons (maca-quinhos) os roncos do macaco dorminho-co (Nyctipithecus trivisgatus) de que fuieu o primeiro que dei a descripção; urrosentrecortados do grande tigre da Ameri-ca; do Conguar ou lião sem juba, do Peca-ri ou porco do matto, da preguiça, e deuma multidão de papagaios, de Parraquas(Ortalida) e outras gallinaceas. Quandoos tigres avançavam para o limite da flo-resta, nosso cão, que antes rosnava semcessar, buscava uivando um refugio emnossas redes. Algumas vezes o rugir dotigre descia do alto das arvores; era entãosempre acompanhado dos gritos agudos equeixosos dos macacos que se esforçavamem escapar a este perigo novo para elles. Se alguem pergunta aos indios o que,durante certas noites, produz este tumul-to continuo, respondem rindo, que os ani-maes gostam de ver a lua esclarecer a flo-resta, e que elles festejam a lua cheia.Quanto a mim, a scena parece provir deum combate empunhado por acaso, e quese prolongava com um encarniçamentosempre cressente. O Jaguar persegueos catatús e as antas, e estes animaes,estreitamente unidos, quebram a palissadade arbustos que põe obstaculo a sua fugi-da. Espantados desse ruido, os macacosdo cimo das arvores misturam seus gritosaos dos outros animaes; desputam as fa-milias de passaros empoleirados em socie-dade, e assim, pouco a pouco, todo povoanimal se põe em alvoroço. Uma maislonga experiencia nos ensinou que não ésempre, devidamente, «a celebração dalua cheia» que perturba o repouso dosanimaes. Era durante os violentos agua-ceiros que os gritos se tornavam mais es-tridentes, ou quando no meio de estam-pido dos trovões os relampagos illumina-vam o interior das florestas. O virtuosofranciscano que, inda que soffrendo fe-bres a muitos mezes, nos acompanhouatravez das cataratas do Ature e Maypuréaté S. Carlos no Rio Negro, perto da fron-teira do Brasil, costumava dizer ao cahirda noite, quando receiava uma tempesta-de. «Possa o céo conceder-nos uma noitetranquilla bem como aos animaes selva-gens da floresta.» A scena que aqui traço e que se repro-duzio muitas vezes por nós, offerece umcontraste singular com a calma que reinasob os tropicos na hora do meio dia, nosdias em que o calor é excessivo. Recor-rendo de novo ao jornal, de que já fallei,referirei ainda uma scena do lugar em queo Orenoco se estreita e abre caminho atra-vez da parte oscidental dos montes Pari-ma. O que nesta notavel passagem, sechama uma garganta (Augestura del Ba-raguan) é uma bacia que não tem menosde cinco mil tresentos e quarenta pés delargo: Se exceptuar-se algum velho tron-co dessecado de Aubletia (A priba Tibur-bu) e uma nova especie de Apocineo (Al-lamanda Sallicifolio) apenas se pode acharsobre a rocha algumas plantas exoticas decores prateadas. Um thermometro, posto a sombar, masa algumas polegadas apenas da massa gra-nitica que se elevava dos rochedos escar-pados, marcava, mais de 40° se via, comouma especie de mirage, flotuar os contor-nos de todos os objectos longiquos. Nenhum sopro agitava a arèa poeirosaque cobria o solo. O sol estava em seuzenith; a luz que derramava sobre o rio,e que as aguas apenas agitadas despediamdeslumbrante, fazia inda melhor perceber-se as nuvens ardentes que envolviam o ho-risonte. As pedras nuas e arredondadas,e todos os pedaços de rocha estavam co-bertos de um numero infinito de Iguanes de espessas escamas; de Jeckos e Salaman-dras mosqueadas, que immoveis, com acabeça levantada e as fauces abertas, pa-reciam aspiras com delicias o ar abrasado.Os grandes animaes se ocultam a esta ho-ra no amago das florestas, os passarosprocuram os arvores copadas e as fendasdos rochedos; mas se durante a calma ap-parente da natureza, se prestarmos ouvi- |4| dos aos sons quasi imperceptiveis, alean-çar-se-ha a superficie do solo ou nas ca-madas inſeriores do ar um ruido confusoproduzido pele murmurio e zumbido dosinsectos. Tudo annuncia um mundo deforças organicas em movimento. Em cadatojo, na cortiça fendida das arroses, naterra que os Hymenoteros escavāo, a vi-da se agita e se faz perceber: é como umadas mil vozes com que e natureza falla aalma compassiva e sensivel do homem.

Humboldt.